terça-feira, 24 de novembro de 2009

Guggenheim no Rio de Janeiro?

A Fundação norte-americana Solomon R. Guggenheim ampliou na última década suas atividades pelo mundo com um sistema de franquias, hoje presente em cinco cidades: Nova York, Veneza, Berlim, Bilbao e Las Vegas. A franquia Guggenheim é paradigmática da introdução da lógica de livre mercado nas práticas do mundo das artes a partir dos anos 80, principalmente na Europa e EUA, redefinindo o papel dos museus e instituições culturais na disputa pelo capital simbólico que a arte seria capaz de “emprestar” às cidades e empreendimentos.(...)

(...)O projeto para o Guggenheim-Rio apresentado pelo arquiteto-estrela francês Jean Nouvel em fevereiro de 2003 exacerba a condição museu-shopping-parque temático ao sintetizar os estereótipos dos “trópicos” do europeu colonizador e do “melhor das férias tropicais” do norte-americano num território latino-americano. O projeto é composto por volumes dispersos em 42 mil m2 de área submersos no Pier Mauá (sim, abaixo do nível do mar na Bahia de Guanabara), com salas de exposição, “pirâmides”, espelhos d’água, uma floresta tropical invertida com cachoeira a 30 m de profundidade. No extremo oposto do pier uma torre cilíndrica gigante em aço-corten abriga um restaurante panorâmico e uma cobertura em forma de nuvem, de onde se avista ao longe a cidade cartão-postal. (3) Acrescente-se a isso o elemento emblemático do projeto: uma lâmina branca que separa o museu da malha urbana local, uma barreira/vitrine para o anúncio de eventos e patrocinadores, negando a cidade real marcada por desigualdades sócio-territoriais. Importante ressaltar que o Guggenheim é mais um elemento do “padrão liberal de planejamento urbano” que prevalece há tempos no Rio (que inclui intervenções de grande porte, segundo o modelo Barcelona, orientadas aos grupos dominantes da cidade) (4), com o intuito, no caso, de “revitalizar” a região portuária. Os termos de contratação entre a Prefeitura e a Fundação prevêem a construção e gestão inteiramente subsidiados por verbas públicas, com um valor três vezes maior que o gasto em Bilbao (que por sua vez custou a soma dos maiores museus espanhóis construídos na década de 90).

As dimensões megalômanas e parasitárias do Guggenheim-Rio no frágil e precário contexto institucional, urbano e cultural brasileiro o configuram como um “grande naufrágio anunciado” (5). O projeto arquitetônico de Nouvel é um índice que cinicamente explicita as lógicas intrínsecas às ações políticas da Prefeitura do Rio, da Fundação Guggenheim e dos outros atores e forças envolvidos.

Texto escrito por Ligia Nobre.


Como seria o Guggenheim Rio de Janeiro:



Museu Guggenheim no Rio de Janeiro – um perigo para a Cidade!
20 de fevereiro, 2003

O Rio de Janeiro precisa de um novo Museu que custará aos cofres públicos R$ 1 bilhão? Nossa cidade possui 50 museus. Temos a prática de erguer instituições novas sem saber como cuidar das existentes. Temos uma infra-estrutura cultural em fase de degradação. Igrejas caindo, museus e uma rede de teatros em estado precário, pouquíssimas áreas de lazer nas zonas norte, zona oeste etc...; espaços culturais como o Jardim Zoológico, o Planetário, Museu da Cidade e muitos outros caindo aos pedaços.

Todos os recursos financeiros destinados à instalação do Guggenheim sairão do tesouro municipal. Este volume de capital daria para asfaltar 3500 quilômetros de ruas e estradas ou construir 6000 escolas ou 7500 creches ou 4300 postos de saúde ou centenas de outras obras importantíssimas para a cidade – fadada ao abandono em vários aspectos.

No estudo de viabilidade feito pela controvertida Fundação Solomon Guggenheim, ela própria calcula que terá, nos primeiros dez anos, um prejuízo operacional da ordem de R$ 35 milhões anuais – valores a serem bancados pela Prefeitura.

A situação financeira da Fundação Guggenheim, comandada pelo francês Thomas Krens, é grave. A filial em Las Vegas foi fechada, a de Nova York demitiu quase a metade dos seus funcionários, o projeto de uma nova filial em Manhattan foi cancelado. A famosa filial em Bilbao, na Espanha, enfrenta graves problemas. Na verdade estamos comprando uma franquia, vamos pagar pela construção do projeto, vamos pagar pelas obras e não teremos a gerencia sobre o que será visto, e nem a mínima idéia sobre quaisquer benefícios para cidade.

A revitalização da região portuária para o futuro da nossa cidade não tem que estar ligada a um projeto megalômano, caríssimo e de retorno duvidoso. O Rio de Janeiro não precisa de Guggenheim.

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